segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ponto . Linha . Plano











Kandinsky, Wassaly. Ponto e Linha sobre Plano. São Paulo: Martins Fontes, 1997.



Para saber mais:

http://www.mac.usp.br/projetos/seculoxx/modulo1/abstracionismo/kandinsky/index.html
http://www.artcyclopedia.com/artists/kandinsky_wassily.html


[
texto retirado de: http://www.mnemocine.com.br/filipe/tesemestrado/tesecap4_3.htm. Data da consulta: 03 de setembro de 2007]

4.3.4. Desenho (linha melódica)


Contudo, se considerarmos elementos simples do desenho, uma outra forma de relacionar a dinâmica musical com a visual é considerar a espessura da linha, ou de um ponto, fazendo também referência à linha melódica e aos contornos mensuráveis de intensidade chiaro-oscuro conforme Harnoncourt. Obviamente, sendo a melodia um elemento análogo à frase de um texto, os elementos anteriormente citados, bem como mais os que virão, estão presentes, em variados graus, para compor a estrutura da melodia. Há nela, segundo a organização destes parâmetros, uma resultante de caráter, que pode ser comparada a outras instâncias similares, como por exemplo nas artes plásticas. O grande pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944) tinha uma grande afinidade com a música e frequentemente recorria a ela para estabelecer comparações entre esta e a pintura, bem como outras artes. Tais correspondências abrangiam, de certa forma, todos os elementos constituintes mencionados, cores, timbres, contraste, ritmo, etc., mas aqui chamo a atenção para sua análise no que diz respeito à melodia. Ele próprio se refere, em O Espiritual na Arte (1996:133), a duas possibilidades de construção na pintura: construções simples são melódicas, construções complexas são sinfônicas. Mas, em seu Ponto e Linha sobre Plano (1997), Kandinsky usa a analogia com a música para descrever características de traço, linha e ponto:

É bem sabido o que é uma melodia musical. A maioria dos instrumentos musicais tem um caráter linear. O timbre dos diferentes instrumentos corresponde à abertura de uma linha: violino, flauta e piccolo produzem uma linha muito fina; viola e clarinete já produzem uma mais grossa; e pelo meio de outros instrumentos mais graves, alcança-se linhas mais e mais largas, para além das notas mais graves do contrabaixo e da tuba.
Além da largura, várias cores são produzidas pelas múltiplas cores de outros instrumentos.
O órgão é tanto um típico instrumento-linha quanto o piano é um instrumento-ponto.
Talvez seja sugerido que na música, a linha melódica oferece o maior estoque de recursos expressivos. Aqui, a linha opera exatamente na mesma forma temporal e espacial à vista na pintura. Como o tempo e o espaço relacionam estas duas artes, já é outra questão. A diferença entre as duas talvez tenha dado origem a uma inquietação exagerada, tendo como resultado que os conceitos de tempo-espaço e espaço-tempo ficaram muito distanciados um do outro.
Os valores escalares do pianíssimo ao fortíssimo podem ser expressos pelo aumento ou decréscimo da intensidade da linha, ou pelo grau de luminosidade. A pressão da mão aplicada ao arco corresponde perfeitamente à pressão aplicada ao lápis. (Kandinsky,1997: 86-87)

Kandinsky aqui nos fornece uma variada gama de comparações, que juntas nos ajudam a formar uma imagem com uma precisão maior de sentidos, tornando o paradigma mais claro. Mas, apesar de falar sobre diversos itens da teoria musical, nos salta o caráter eminentemente visual que pode adquirir a música nestes termos.


Profa. Tatiana

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